Resenha: Uma Longa Jornada, de Nicholas Sparks



Obra: Uma Longa Jornada
Autora: Nicholas Sparks
Editora: Arqueiro
Páginas: 368
Média de preço: R$ 7,11 a R$ 29,90

É fato que, entre algumas leituras, é bom pegarmos algum livro mais leve, com uma história não tão séria e sem compromisso. Minha escolha para esses momentos, que no caso, já foram 13 livros do autor lidos ao longo de quatro anos, é sempre alguma obra de um dos maiores fenômenos editoriais: Nicholas Sparks. Muitas pessoas fogem dos livros do autor, já que, em quase todas as suas obras, a história sempre passa em algum lugar da Carolina do Norte e apresenta protagonistas problemáticos, com problemas pessoais e um ex que os perseguem, o que resulta em um final muito feliz ou trágico. Uma Longa Jornada, décimo sétimo livro do autor, segue essas fórmulas, mas em uma execução diferente.

Imaginem ficar preso em um carro durante uma nevasca, após bater em um muro de contenção e quase despencar de um barranco. É o que acontece com Ira Levinson, um velho de noventa anos de idade, viúvo e com uma vida totalmente atípica. Sofrendo com a dor de seus machucados e temendo não conseguir sobreviver, Ira recebe a visita de Ruth, sua esposa falecida, e os dois começam a conversar, relembrando a vida cheia de amor, desejo e momentos difíceis que dividiram juntos.

 "Se nós não tivéssemos nos conhecido, acho que eu teria compreendido que minha vida não estava completa. E teria perambulado pelo mundo à sua procura, mesmo se não soubesse o que estava procurando."

Ira, um judeu, morava nos Estados Unidos e ajudava seu pai em uma loja de roupas. Ruth vem de um país da Europa para a mesma cidade, fugindo com sua família do regime de Hitler. Os dois demoram a se relacionar, por causa da timidez de Ira. Em meio a vários obstáculos, como a faculdade e quando Ira resolve ir para a guerra, os dois passam por momentos difíceis. A guerra acaba mudando Ira, deixando o jovem rapaz, na época, estéril. O acontecimento acaba por perturbar o futuro casamento de Ira com Ruth, mas em uma grande reviravolta, vemos os dois realizando o casamento e passando anos felizes, enquanto acumulam um grande acervo de arte contemporânea.

Ao mesmo tempo, somos apresentados à jovem Sophia Danko, uma universitária que estuda História da Arte na Wake Forest. Após ser traída por seu namorado e em meio a um convite de ir a um rodeio com sua amiga Marcia, ela não imagina que seria defendida de uma briga com Brian, seu ex, por Luke Collins, um dos cowboys do rodeio e campeão da noite. Enquanto conversam, os dois veem que não possuem nada em comum, mas isso não os impede de começarem a passar um tempo juntos.

Enquanto iniciam um relacionamento, Sophia descobre que Luke quase foi morto em uma montaria e agora, ele e sua mãe tem a chance de perderem a fazenda em que moram, após a mesma ser usada como garantia de pagamento da conta do hospital. E o fato que mais choca Sophia é descobrir que o namorado corre um sério de risco de morte por conta de lesões que ele sofreu em seu acidente com um touro e por isso, ela e a mãe do rapaz são contra a decisão do rapaz de continuar montando. Luke toma a decisão por achar que não há outro meio de conseguir salvar a fazenda, mesmo podendo morrer.

A premissa da história pode soar confusa no livro: o que um velho à beira da morte, revivendo sua vida com a esposa, tem a ver com um casal de jovens? Aparentemente nada, mas em uma reviravolta do destino, eles acabam se cruzando. Pela primeira vez, isso é visto em uma obra de Sparks, o que torna a história bem montada e apaixonante. É bom vê-lo reinventando alguns aspectos criados, mas sem sair dos trilhos que funcionaram em outros livros, o que se tornou sua formulada para o sucesso. Outro ponto que funciona na obra é alternância entre a narração: os capítulos de Ira são narrados em primeira pessoa, enquanto os de Sophia e Luke, em terceira pessoa. É uma boa escolha, indicando a mesma falta de pontos em comum, tanto na narrativa quanto na história em si.

O que mais me chamou a atenção em Uma Longa Jornada foi Nicholas desenvolver seus personagens de maneira mais crua. Vemos que Ira e Ruth são estrangeiros que se mudam para os Estados Unidos, com toda uma inocência, tendo suas personalidades e vida, muitas vezes, moldadas com as dificuldades que os dois passam. Vemos momentos felizes, mas é claro, que há as passagens tristes, que, dessa vez, se tornam um pouco mais reais do que em outras obras do autor. Do outro lado, temos o medo do futuro de Sophia e os segredos e culpa que Luke insiste em esconder, além da falta que o rapaz sente do pai. As personalidades aqui são bem formadas e em alguns casos, bem fortes, mas o que mais interessa é que: mesmo dividindo uma história, não há nada em comum no modo de agir dos quatro.

O livro toma uma forma diferente em suas últimas 60 páginas. Sparks enfim nos apresenta o motivo de unir duas histórias de casais tão diferentes. O elemento surpresa aqui é algo que poderia ser usado em obras futuras, afinal, é bom sair um pouco da mesmice de um final por muitas vezes já premeditado antes do meio da obra. As reviravoltas nos deixam ávidos pelo fim da história e, quando vemos, estamos devorando as últimas páginas, ainda sem acreditar no fim tão bem pensado da nova onda de romances que o autor pode seguir trilhando em novos títulos.
Uma Longa Jornada é o tipo de obra que continua com você mesmo após ter a leitura finalizada. É o tipo de livro que, além de te entreter, lhe permite fazer uma reflexão sobre a vida. Se tornou a minha obra favorita de Nicholas Sparks e um dos melhores livros que eu li. Merece ser relido e indicado, sempre.

"Se existe um paraíso, nós nos encontraremos de novo, porque não existe um paraíso sem você."


E por curiosidade, o livro ganhará uma versão para o cinema que chega no Brasil em maio desse ano. O filme será levado às telas pelo mesmo time de produtores por trás de A Culpa é das Estrelas e tem Britt Robertson como Sophia Danko, Oona Chaplin como Ruth, Scott Eastwood como Luke Collins e Alan Alda como Ira. O filme parece estar ótimo, confiram o trailer logo abaixo:

Nota: * * * * * * * * * *

Comentários

Jerusa disse…
Oi Lucas, acho a narrativa do Nicholas um pouco lenta, demora muito para que eu realmente me interesse pela história, e como vc disse os roteiros sempre acabam um pouco repetitivos, ao contrário os filmes baseados em seus romances eu adoro... vai entender!? mas esse livro parece ser um pouco diferente, e o preço tbm é bom, quem sabe numa próxima compra eu me arrisco novamente.
www.caprichoseleituras.blogspot.com.br
Lucas disse…
Jerusa, pra ler Sparks tem que ter paciência mesmo, mas nesse livro isso muda. Eu já sou ao contrário, prefiro os livros do que os filmes, acho que falta muita informação em todas as adaptações, são poucas que realmente me agradaram. Quanto a ler, pode ir sem medo, você vai se surpreender. Abraço.