Resenha: Sangue na Lua e Outros Contos, de Sheila Schildt



Obra: Sangue na Lua e Outros Contos
Autora: Sheila Schildt
Editora: Alcance
Páginas: 112
Média de preço: R$ 2,32 (versão e-book)

Pela primeira vez, estarei postando sobre um livro de contos, gênero que eu não tenho muito costume de ler. Conheci esse livro pela autora Sheila Schildt, que estava divulgando-o pelo Facebook com uma proposta de participar de um booktour. Prontamente eu aceitei, por dois motivos: querer me aproximar mais de contos e ainda ter a chance de apreciar uma boa escrita de um autor nacional ainda desconhecido. Não me arrependi.

Sangue na Lua e Outros Contos reúne ao total onze contos, que vão do terror ao suspense, da violência doméstica a temas com fim do mundo, de assombrações a bruxaria. Ou seja, é o prato prefeito para quem gosta desse estilo. Apesar de ser bem curto, o livro tem a capacidade de nos prender em suas histórias, todas distintas, e nos instiga a descobrir se o próximo conto será tão instigante, amedrontador ou assombrado quanto o anterior.

Uma das capacidades que Schildt apresenta é a da curiosidade. Seus contos nos desejam sedentos por mais, querendo sempre que eles virassem uma obra completa, com muitas reviravoltas e sustos, fazendo jus às poucas páginas que eles apresentam. Pelo pouco que eu li do gênero, é difícil algum autor nos levar a esse ponto, mas isso não acontece com Sheila. A autora sabe muito bem a hora de finalizar, sempre deixando aquele gostinho de quero mais.

Do início ao fim, vemos a capacidade criativa que Sheila tem. A autora soube muito bem mostrar o verdadeiro significado de terror por meio de suas criações. Algumas delas, chegam a ser muito reais, como os casos retratados em Um (algumas vezes verdadeiro) Conto Natalino e Eram Almas Gêmeas, onde o horror real aqui é retratado por meio da violência doméstica contra mulheres e crianças. Dentre todos os contos, os dois são os que mais nos amedrontam, por apresentar situações que podem estar acontecendo com pessoas que conhecemos e ainda assim, não fazemos ideia de que isso possa estar acontecendo.

Até o dia em que sumiu a primeira criança. E seguido desta, outras três. As mães, chorosas, reclamavam aos homens atitude. Uma criança havia sido encontrada sem os olhos; outra sem nenhum dos órgãos e, mais outra, sem a pele (...) Alguns padrões passaram a se repetir. Afinal, não era sempre que algo assim acontecia. Era só quando havia lua cheia. E só quando esta aparecia no céu com sua borda avermelhada, como se estivesse ávida do sangue das criancinhas, e houvesse alguém nos arredores que satisfizesse sua sede insaciável.

Um dos contos que mais me chamou a atenção foi o denominado A Colônia. Um dos pontos fortes do livro, o relato é sobre um mundo já devastado, onde a sobrevivência humana está cada vez mais difícil. O ponto central da trama, mesmo pequeno, é bem desenvolvido, nos permitindo imaginar com clareza o propósito da situação. É um dos contos mais cruéis e com o desenvolvimento mais surpreendente. Acha que já leu algo perturbante? Espere até ler este conto.

O que me chamou a atenção na escrita de Sheila foi a sua simplicidade e capacidade de nos transportar pra dentro das suas histórias. Mesmo com poucas páginas, sua maneira de escrever nos envolve de uma maneira surpreendente, nos deixando ávidos para descobrir o que vem a seguir. Essa é uma proeza que poucas pessoas tem, já que geralmente, contos são difíceis de envolver os leitores, mesmo os mais longos. E é totalmente o contrário que acontece aqui.

O livro tem em seu ápice os contos Sangue na Lua e Quando eu era professor na Escola Rainha Elizabeth para Meninas. O primeiro, que dá nome ao livro, é uma leitura surpreendente, por apresentar uma releitura do terror de uma maneira formidável. O conto é um dos mais interessantes, pela época em que se passa, acontecimentos e personagens. Além de ser um dos melhores, pelo menos é o que me deixou mais ávido por um romance desenvolvido em cima dessa pequena obra. Imagino que, se o conto é bom, o livro seria ainda melhor.

Por outro lado, Quando eu era professor na Escola Rainha Elizabeth para Meninas, é o típico conto que confunde um pouco sua mente. Aparentemente, seu início da uma sensação de que será puxado para o lado mais físico do terror, mas acaba se tornando uma história de assombração e sanidade muito bem desenvolvido. Foi um dos contos que me fez arrepiar e me questionar o que aconteceria até o fim do conto. Sua ambientação e desenvolvimento são muito bem pensados, resultando em um conto ao mesmo tempo estranho, perturbador e envolvente.

No mais, Sheila tem um grande começo como escritora de terror e suspense. O livro está em venda na Amazon para quem interesse e, como dica pessoal, vale muito a pena comprar. Deixo aqui, meu agradecimento à autora por ter me deixado participar do booktour e desejo a ela sucesso. Impossível não ter após esses contos.

Nota: * * * * * * * * * *

Comentários

Marcus Alencar disse…
Olá Lucas. Cara, concordo com você sobre o quanto esta obra consegue nos impactar tão facilmente. Acho isso incrível, inclusive. Foi uma grata surpresa. Também não conheço muito do gênero terror e fico feliz de ter começado justo com uma autora nacional. Essa simplicidade na escrita também me agradou muito, pois facilitou ainda mais o processo de imersão nesse mundo tão parecido com o nosso. Aliás, é basicamente o nosso mundo a grande maioria dos contos, o que mostra que a autora não precisa ir tão longe para mostrar o horror que o ser humano é capaz de produzir em sua vida ou na dos outros.

Bom, vou ficando por aqui com esse comentário te parabenizando pela resenha e te convidando para ouvir o podcast Leituracast. Na edição 13, há um programa inteiro só sobre esse livro.