Resenha: A Trilogia do Mago Negro - O Clã dos Magos, de Trudi Canavan



Obra: A Trilogia do Mago Negro - O Clã dos Magos
Autora: Trudi Canavan
Editora: Novo Conceito
Páginas: 446
Média de preço: R$ 20,90 a R$ 34,90

É sempre gratificante achar obras que têm algum tipo de crítica social em seu enredo, por vezes de uma maneira bem implícita em seu enredo, o que torna a leitura mais rica. Esse fato é ainda melhor quando a obra é um livro para jovens adultos que ainda não é tão famosa quando outros volumes. Foi com um enorme prazer descobrir esse livro que a Novo Conceito publicou em 2012. O referido é O Clã dos Magos, primeiro volume da chamada A Trilogia do Mago Negro, da australiana Trudi Canavan. Todos os livros já foram lançados, mas ainda são desconhecidos por muitas pessoas, o que é uma pena, devido ao grande valor da história.

Somos apresentados pela autora a cidade de Imardin, onde há um evento anual chamado de Purificação, que expulsa de suas ruas todos os pedintes, criminosos e vagabundos. Realizado pelos magos que vivem na cidade, o dia em que a Purificação acontece é marcado por várias tentativas de ataque, o que faz com que o Clã utilize suas habilidades para criar um escudo. É nesse dia em que Sonea surge, uma jovem moradora das favelas que nutre um ódio mortal pelos magos. Em meio ao ataque mais comum, jogar pedras no escudo dos magos, a garota lança uma pedra e, ao depositar todo o seu sentimento na mesma, faz com que atravesse o escudo e acerte um dos magos. Sem saber o que se sucedeu e em meio ao caos, Sonea foge do lugar e, no meio de uma tentativa para pará-la, os magos acabam matando um inocente morador das favelas.

Temendo o que possa acontecer, Sonea se une a um antigo amigo, Cery, para que possa fugir do Clã e esconder suas recém-descobertas habilidades mágicas. Enquanto isso, o Clã organiza uma busca para achar a garota, temendo que os seus poderes sejam mais fortes do que aparentam e possam dizimar a cidade. A busca é organizada por Lorde Rothen, o mago que viu a façanha de Sonea, e de Lorde Dannyl, seu antigo pupilo, tendo supervisão do Administrador Lorlen. Enfrentando os perigos das favelas, a dupla ainda conta com a interferência do mesquinho Lorde Fergun, o mago que foi atingido por Sonea e nutre um sentimento de desprezo pelos habitantes da favela e teme que o Clã aceite pela primeira vez um mago que não venha de uma das Casas ricas da cidade. Temendo pela vida da amiga, Cery faz um acordo com os Ladrões para que protejam Sonea enquanto ele trabalha para o líder, Faren. No meio disso, os poderes de Sonea se desenvolvem rapidamente, o que faz com que todos se preocupem com a sua segurança.

Visando se distanciar de outras histórias de magia, Trudi busca caminhos diferentes para contar a sua história. A autora faz uma crítica ao preconceito e à pobreza, que se tornam parte importante da construção do enredo. Vemos isso explicitamente nos relatos da vida na favela de alguns moradores, incluindo Sonea, e também dos magos, que se assustam com as condições de vida dos habitantes. O preconceito aqui é forte com relação ao pensamento de superioridade que os magos apresentam. 
Vemos várias passagens na obra que o desprezo entre os menos favorecidos é mostrado, algumas de maneiras cruéis. O maior exemplo disso na história é o odiável Lorde Fergun. Sonea também está no meio dessa crítica, onde a autora a usa para mostrar que, até os menos favorecidos desprezam as pessoas com uma melhor qualidade de vida. O pensamento da protagonista é forte ao demonstrar uma raiva para com os membros do Clã.

Deixando a crítica que a autora faz, posso dizer que o livro é dividido em duas partes. A primeira mostra as buscas do Clã por Sonea, o desenvolvimento de suas habilidades e as fugas que a garota tem acompanhadas de Cery. Essa parte é um pouco mais arrastada, com destaque nas passagens em que Sonea e Cery invadem o Clá sorrateiramente, e é quando a garota descobre um segredo do Lorde Supremo Akkarin, o diretor do Clã, e quando Lorde Rothen consegue encontrar Sonea nas favelas após a mesma perder o controle dos seus podres. Já a segunda parte é focada na nova vida de Sonea dentro do Clã, enquanto ela desenvolve uma amizade com Rothen e Dannyl, aprende a controlar seus poderes e sobre os membros do Clã e também, tem o peso de uma grande ameaça que caí sobre os seus ombros, após ser chantageada por Lorde Fergun.

Os personagens criados são totalmente atípicos, o que evidencia ainda mais toda a ideia de divisão social. Vemos os personagens da favela, como Sonea e Cery, lutando pela sobrevivência em um ambiente comandado por roubos e traições. Vemos a justificativa pelo ódio que a população das favelas tem pelo Clã por saber que os magos poderiam ajuda-los, mas nada disso acontece. Do outro lado, percebemos que o Clã é um pouco alheio à razão desse ódio e descobrimos as razões que não os levam a entrar nas favelas. Todos os personagens que compõem o círculo principal da história tem seu passado desenvolvido durante a trama, o que leva a nos mostrar o verdadeiro motivo que os indiciam a agir de tal maneira.

O livro tem momentos de pura magia, quando vemos o treinamento de Rothen com Sonea, enquanto o mago a ensina a usar suas habilidades. Outro momento chave é quando Rothen vê que a garota tem relutância a se juntar ao Clã e, temendo que o seu potencial seja bloqueado para que ela retorne para as favelas, o mago a mostra as habilidades dos magos em Guerra, Medicina e Alquimia, o que torna o entendimento sobre o Clã bem claro. Apesar desse primeiro volume apresentar um enredo mais parado, temos momentos de tensão quando vemos a disputa entre Rothen e Fergun para a guarda de Sonea, uma passagem que nos deixa relutantes com os acontecimentos e que chega a um final satisfatório, com o envolvimento de Rothen e Lorlen para as atitudes do Lorde Supremo, que Sonea divide com ambos os magos, deixando um gancho para a continuação no segundo volume.

No mais, O Clã dos Magos é um livro que vai decepcionar as pessoas que estão esperando uma história recheada de ação, batalhas épicas e muita magia. O que prevalece no primeiro volume é uma história mais tranquila, mas que lança possibilidades para continuações explosivas, tudo isso dentro de uma crítica social. É uma leitura agradável e simples, mas recheada com um problema típico da nossa sociedade. Que os outros volumes da trilogia sigam esse caminho, apresentando, é claro, um pouco mais de ação. Mérito para Canavan. 

Nota: * * * * * * * * * *

Comentários

Cláudio Cabral disse…
Oi Lucas!
Esse livro já tinha me chamado bastante atenção,mas é muito difícil achar alguém que já tenha feito resenha dele.
A história parece ser realmente interessante e sua resenha só me deixou com mais vontade de ler.
Abração!!

http://livreirocultural.blogspot.com.br/
Lucila disse…
Olá,
Eu havia marcado como livro que queria ler e sua resenha me fez desejar ainda mais... muito boa!
Lucila
mila disse…
Algumas pessoas me chamam de alienada, outras de criativa! Mais nesse mundo quem não precisa de fantasia em meio ao caos em que estamos vivendo, principalmente na leitura que mescla o real com o imaginário, isso me faz bem. Obrigada pelo convite!
Lucas disse…
Cláudio, é um bom livro. E pelos comentários que li, parece que os outros volumes são ainda melhores. Ansiando pela leitura deles também.
Lucas disse…
Não vai se arrepender dessa leitura Lucila, me avise o que achou dela depois.
Lucas disse…
Seu comentário transpõe verdadeiramente o motivo de uma boa leitura Mila. Eu que agradeço a sua visita. Abraço.