Resenha: O Livro Perdido das Bruxas de Salem, de Katherine Howe



Obra: O Livro Perdido das Bruxas de Salem
Autora: Katherine Howe
Editora: Suma de Letras
Páginas: 357
Média de preço: R$ 32,90 até R$ 48,90

Ah, a leitura sem pretensões. Pegar um livro praticamente desconhecido, de uma autora sem muitas referências e descobrir uma história rica e totalmente envolvente é o que todo leitor assíduo espera ao se deparar com alguma obra que se encaixe nessas descrições. Foi o que aconteceu com O Livro Perdido das Bruxas de Salem, da americana Katherine Howe. Lançado no Brasil já a algum tempo, o livro não teve uma divulgação grande, não apareceu em nenhuma lista dos mais vendidos, o que é uma pena, já que, em muitas vezes, livros com conteúdos de qualidade são praticamente ignorados por causa da falta do marketing (ou o excesso dela).

O enredo do livro é baseado em fatos históricos e verídicos, mais precisamente sobre o ano de 1692, onde Salem, nos Estados Unidos, foi palco de diversos julgamentos e execuções de mulheres denominadas bruxas. A autora logo de início nos apresenta à Connie, uma estudante de pós-graduação que consegue ingressar nos estudos para conseguir um PhD em História. Após passar no teste, Connie se vê indecisa sobre o que escrever para sua tese e passa a se sentir intimidada sobre a cobrança constante de seu orientador, Chilton. Em meio ao estresse, Connie ainda se vê obrigada a sair do campus da Universidade e ir para Salem, após receber um telefonema de sua mãe, pedindo para que ela se mudasse para a cidade, para dar um jeito na casa abandonada de sua avó, para ser vendida. Connie só não esperava que, a casa, esquecida pelo tempo, acabaria lhe apresentando uma ótima fonte para sua tese.

Um dia, enquanto limpava a casa, Connie acha uma Bíblia com uma chave dentro, e, o que a deixa mais curiosa, é um pedaço de papel que estava junto a chave, com o nome Deliverance Dane. Intrigada com o nome, o instinto de pesquisadora da garota se ativa e ela passa a realizar uma busca para saber quem era aquela mulher. Em meio as buscas, Connie conhece Sam, um jovem restaurador de prédios históricos que passa a acompanhá-la em suas buscas. Enquanto se aprofunda em sua pesquisa, Connie descobre que Deliverance foi uma das acusadas de bruxaria durante os julgamentos de Salem e que ela possuía um livro, denominada Livro das Sombras, que havia passado de mãos em mãos por suas descendentes até que desapareceu. Acontecimentos envolvendo Connie e Sam, que acaba os pondo em perigo, faz com que a garota tenha uma determinação em descobrir o que aconteceu com Deliverance.

O livro é narrado de duas formas diferentes: acompanhando Connie e com capítulos intercalados envolvendo Delierance e suas descendentes. São nos capítulos passados que vemos a habilidade de Howe em construir uma trama que pareça ao mesmo tempo verídica e que se encaixe em sua obra. É possível ver que a autora se preocupou em fazer uma pesquisa minuciosa sobre a época da história americana antes de escrever o livro, o que leva a um maior aprofundamento. Já o tempo presente do livro se torna interessante por vermos Connie ir descobrindo de pouco a pouco o que aconteceu realmente em Salem no passado, além de nos assustarmos quando as histórias começam a se tornar similares.

Um fato que chama a atenção para o seu enredo é que, de uma forma bem sutil, a autora consegue instigar o leitor que, até hoje, é provável que ainda exista praticantes de magia na cidade de Salem. Ela não apresenta provas concretas disso, mas o desenvolvimento dado à Connie e sua desenvoltura em certo ponto do livro, faz com que levantemos essa questão, mesmo que de forma inconsciente. Ainda existem ideias de que essas práticas ainda são comuns, de maneira não tão fantasiosa como a autora descreve, o que nos deixa intrigados com o cidade.

A obra conta também com uma áurea de mistério em toda a sua escrita. A autora tem o cuidado de ir revelando o que aconteceu com a trama, principalmente no passado, de pouco a pouco, o que deixa o leitor ávido para ler cada vez mais. Essa tom de constante dúvida é tão grande que deixa a todos bem intrigados sobre o que virá a seguir e se as personagens irão ter um final digno ou não. Por incrível que pareça, Howe consegue intrigar o leitor nas duas linhas temporais que acompanham a história, tornando a leitura algo ainda mais prazerosa e que nos instiga a não largar as páginas, afinal, após nos envolver com seus personagens, passamos a ficar em um estado de furor até descobrir o que vem por aí.

Algo que chama a atenção na construção da obra é a presença de um feminismo constante. Howe, de uma maneira bem sutil, consegue desenvolver personagens femininas com características únicas. Connie é uma atípica garota que vive nos dias atuais. O que mais chama a atenção é como a autora desenvolveu sua protagonista conseguindo dar um tom ao mesmo tempo moderno e antiquado, deixando o leitor à deriva de se identificar com a personalidade forte e inteligente de Connie. Sua persistência, capacidade intuitiva e simplicidade encanta a todos. E, quando se trata do passado, Howe surpreende mais uma vez. Deliverance e suas descendentes são mulheres fortes, batalhadoras e inteligentes, muito à frente do seu tempo. Para essa linha temporal, a autora segue um padrão de mostrar que não é de hoje que a força das mulheres estão presentes na sociedade. Suas personagens são grandes exemplos disso.

O que infelizmente faz com que a obra perca um pouco do seu brilho é justamente o clímax da história. Howe consegue construir uma subtrama bem instigante e profunda, mas que perde o ritmo em seu momento de maior importância. Não dá para saber se isso foi feito de propósito, para dar mais destaque ao pano de fundo histórico, ou se isso foi falta de habilidade da autora, mas o fato é que, Howe guia a sua obra para um embate, no mínimo, bem inteligente e recheado de reviravoltas, mas o que ela apresenta é um clímax onde o diálogo se faz mais importante do que o combate, decepcionando um pouco o leitor. Ela nos prepara para um final que seria, no mínimo, bem construído e tenso, mas que no fim, é algo indigno da qualidade da obra.

Em suma, O Livro Perdido das Bruxas de Salem é uma boa pedida para quem gosta de livros com mais de uma linha temporal, mistérios bem amarrados à trama e a presença de grandes personagens. É realmente um prato cheio para a leitura naquele domingo preguiçoso. E detalhe, não esqueçam de ler a nota da autora, que é tão interessante quanto a obra.

Nota: * * * * * * * * * *

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