Resenha: Naomi & Ely e a Lista do Não Beijo, de Rachel Cohn e David Levithan



Obra: Naomi & Ely e a Lista do Não Beijo
Autores: Rachel Cohn e David Levithan
Editora: Galera Record
Páginas: 256
Média de preço: R$ 16,11 até R$ 29,00

Cada vez mais, vemos romances para jovens adultos serem lançados no mercado editorial repetindo fórmulas gastas sobre amor, amizade, fidelidade e o medo de estar se tornando um adulto, e, de uma maneira certa, caem no gosto do público, rendendo milhares de cópias vendidas. Quando vemos um livro que segue essa linha, mas com uma nova visão sobre a fórmula de sucesso, vale perder nosso tempo conferindo a obra, como é o caso de Naomi & Ely e a Lista do Não Beijo.

Escrito em 2007 por David Levithan em parceria com Rachel Cohn, o livro só chegou ao Brasil nesse ano, um desperdício de tempo comparado à qualidade da trama apresentada. O enredo pode até parecer clichê para quem ler despretensiosamente: Naomi e Ely são dois amigos inseparáveis que cresceram juntos e são vizinhos, que, lado a lado, tem toda uma Nova Iorque inteira à seu dispor. Naomi ama Ely e está apaixonada pelo amigo, mas, para seu desespero, Ely é gay. Em uma maneira de preservar a amizade, os dois criam a Lista do Não Beijo, onde nenhum dos dois podem beijar os rapazes listados. Mas isso não significa que Naomi irá desistir de avançar da parte da amizade com Ely. Só que, inesperadamente, as coisas mudam repentinamente quando Ely beija o namorado de Naomi.

Apesar do aparente clichê por conta de sua trama, o livro acaba indo por outros caminhos completamente diferentes. Grande parte dessa nova visão sobre uma trama aparentemente tão comum vem da genialidade de David e Rachel. Os dois autores, que já uniram as canetas em outra obra, são conhecidos por suas narrativas bem desenvolvidas, recheadas de referências atuais e uma mistura entre momentos dramáticos e alivio cômico, além de darem uma repaginada em outros elementos que serão tratados à seguir.

A protagonista da vez, devido à história se passar toda ao seu redor, é com certeza Naomi. Tida como uma garota linda, com um corpo de morrer e personalidade maléfica, sua personificação é tão bem criada que é impossível não acharmos que estamos diante de uma pessoa de verdade. Naomi tem todos os aspectos necessários para ser considerada uma delinquente: é mentirosa, mesquinha e só pensa em si mesmo. Também é alguém que não dá importância ao que os outros falam. Mas, por trás de toda essa negatividade, temos uma garota com um coração despedaçado, que merece uma segunda chance. Do outro lado, Ely é o oposto de Naomi, o que ajuda a dar uma força nessa coisa de "os opostos se atraem" presente na obra. Engraçado, sincero e uma pessoa extremamente excêntrico, Ely é o típico melhor amigo que todos sonham em ter. O garoto é descrito como um Don Juan para garotos e isso tudo muda com o beijo em Bruce, o segundo, namorado de Naomi. É a partir desse ponto em que vemos uma mudança repentina no personagem, que pela primeira vez, vê em alguém uma chande de ter um relacionamento firme.

Enquanto os protagonistas conquistam por sua construção, os personagens secundários tem papéis fundamental, como o fato de existir dois Bruces na história. O primeiro, é um rapaz ingênuo que Naomi costuma aproveitar da boa vontade do rapaz, já que ele é perdidamente apaixonado por ela. O que diferencia esse personagem é o fato de que, mesmo na adolescência, Bruce, o primeiro, é um garoto insone por causa da nossa protagonista. Por outro lado temos Bruce, o segundo, o rapaz que troca Naomi por Ely. Diferente dos outro personagem, o segundo é um cara totalmente inseguro em relação à Ely, o que o deixa à mercê de grandes mudanças na história. Outros personagens que roubam a cena são a Robin e o Robin. Sim, o mesmo nome para os dois, mesmo sendo de sexos diferentes. A jogada aqui é pegar dois personagens que compartilham o mesmo nome e criar uma história paralela junto à principal, o que é algo inusitado. O único personagem fraco é Gabriel, o porteiro do prédio onde os protagonistas moram e que nutre uma queda por Naomi. Mesmo tendo um capítulo narrado pelo personagem, ele não é tão desenvolvido quanto os outros, tornando-o menos interessante.

O livro é todo narrado pelos personagens, com destaque à Naomi e Ely. Todos tem alguma parte que pode contribuir ou não para a situação em que os protagonistas se envolvem. A leitura é fácil e recheada de referências atuais, o que o torna prazeroso. Mas a melhor parte são as reviravoltas que acontecem na história, mesmo sendo tão comum. Os autores conseguem ir por caminhos inusitados que acabam dando certo e trazendo originalidade à trama. É claro que, como qualquer livro escrito a quatro mãos, que há alguns deslizes ou exageros aqui ou ali, mas no geral, a colaboração entre Cohn e Levithan se mostra certeira mais uma vez. Um outro ponto positivo é o fato da história tratar de um assunto controverso como a homossexualidade de uma maneira natural e leve. O assunto é tão comum no livro que o leitor acaba se esquecendo e acaba se acostumando com o que se trata a história na verdade: de uma briga bem divertida entre amigos de infância por causa de um rapaz.

Quem gosta de leituras fáceis e divertidas, essa é a pedida certa. Quem ler irá devorar as páginas em pouco tempo e se deliciar. E uma dica: se quiserem uma experiência melhor de leitura, tentem conseguir as músicas citadas por Gabriel em seu capítulo. Fica muito interessante e delicioso de acompanhar a história. O livro também foi adaptado para o cinema e lançado em setembro, é uma boa pedida assisti-lo após a leitura, concordam? É imperdível.

Nota: * * * * * * * * *

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