Resenha: O Bebê de Rosemary, de Ira Levin

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Obra: O Bebê de Rosemary
Autores: Ira Levin
Editora: Amarilys
Páginas: 224
Média de preço: R$ 31,66 até R$ 44,00

Clássico que é clássico atravessa gerações, encantando milhões de pessoas com suas belas histórias e finais felizes para seus personagens. O que não acontece aqui. Apesar de ter sido lançado em meados dos anos 1960, O Bebê de Rosemary, do americano Ira Levin, é lembrado até hoje, não por suas características felizes, mas por mostrar uma nova face do terror, algo que beira a insanidade e que mexe com o psicológico do leitor. O sucesso foi tanto que o livro ganhou uma adaptação para o cinema em 1968, sendo eleita uma das obras primas do terror, e uma minissérie em 2014, que não obteve tanto êxito quanto o desejado.

A premissa do livro é bem simples. Rosemary e Guy são um jovem casal que reside em Nova York. Guy é um ator que realiza papéis pequenos e sonha com o estrelato, sendo acompanhado de perto pela esposa em sua torcida pelo sucesso. Realizando um de seus sonhos, o casal compra um apartamento no prédio Bramford, que é conhecido por ter sido palco de vários assassinatos a sangue frio e crimes durante os anos. Rosemary é repreendida pela mudança por seu amigo Hutch, que insiste em dizer que o prédio só os fará mal. Arriscando suas chances, eles se mudam para o apartamento, seguindo uma rotina tranquila.

No Bramford, Rosemary e Guy são bem-recebidos pelos vários vizinhos. Um deles é Terry, uma mulher que está se recuperando do vício e é praticamente adotada pelos Castevets, um excêntrico casal do prédio. Após Terry cometer suicídio uma noite, Rosemary e Guy acabam se aproximando dos Castevets, a contragosto da protagonista. Enquanto mais Guy se aproxima dos Castevets, Rosemary se vê presa no relacionamento do marido com o casal, até que Guy começa a ter sua carreira deslanchada após ser o substituto de uma nova peça, cujo ator principal ficou repentinamente cego. É nesse meio que, em uma noite após o jantar, Guy propõe a Rosemary que eles tenham um bebê juntos e, após comer uma sobremesa feita por Minnie Castevet, Rosemary tem um tipo de alucinação com figuras tenebrosas, que resultam na concepção de uma criança logo depois.

Apesar de ter um ponto de partida um pouco parado, o enredo de O Bebê de Rosemary é do tipo que vai dando poucas informações ao passar das páginas, deixando que o leitor decida no que acreditar e, se ao fim do livro, ele vai ter seu palpite acertado sobre o que realmente aconteceu à protagonista. Uma das grandes características da escrita de Levin aqui é essa: sua capacidade de fornecer o que o leitor precisa, ainda assim deixando várias lacunas abertas para que a curiosidade o faça não largar o livro até o final e responder a pergunta: o que aconteceu com Rosemary após se mudar?

Outro grande acerto presente na história é a maneira com que o autor mescla os elementos de horror com os de um romance comum. Aqui não há nenhuma cena que possa ser considerada como explícita ou que está ali com o simples intuito de causar medo. Levin tem a capacidade de usar os elementos de forma cautelosa. O horror presente na obra pode ser tido como psicológico, afinal, a maneira com que Rosemary lida com os acontecimentos e como eles vão se intercalando, se torna perturbador pelo simples fato de serem ambíguos e sempre deixar aquela dúvida sobre o que é real ou não. A tensão criada na obra se torna forte sem o explicito que é sempre remetido quando ouvimos falar sobre a cultura do terror em geral.

Os personagens secundários também são vítimas da ambiguidade presente no desenrolar da trama. Afinal, nos perguntamos em vários momentos da trama quais as reais intenções do Castevets, que podem ser considerados como os mais presentes durante todo o desenrolar da obra. Levin usa aqui um artifício no mínimo perturbador e que nos faz ficar indecisos sobre quem pode ser o verdadeiro vilão da história. Por vezes, é praticamente impossível decidir formarmos uma opinião sobre qual sentimento o casal irá despertar em nós.

Como já citado, o enredo pode parecer monótono no início, mas logo que a história engrena, fica difícil não nos mantermos ligados ao que pode acontecer. A trama começa devagar e passa a dar leves aceleradas ao virar das páginas, nos deixando ávidos pelo que há por vir. Os acontecimentos levam a um final chocante, perturbador e satisfatório. O único problema é que, por ser vendido como uma obra de horror, todo o conjunto da obra pode ser não tão agradável para os fãs do gênero, que geralmente esperam uma história completamente diferente.

O Bebê de Rosemary acaba sendo a prova que, apesar de tudo, o terror psicológico pode ser uma pedida muito boa para a literatura e para outros meios, já que temos a sua adaptação listada como um dos melhores filmes de todos os tempos. A prova disso é que, mesmo após tantos anos, essa obra ainda fascina muitas pessoas, ao mostrar que, mesmo em um gênero onde você pode apostar em tudo para criar o medo, trazer menos ainda é mais para a qualidade.

Nota: * * * * * * * * * * 

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