Resenha: A Arte de Correr na Chuva, de Garth Stein



Obra: A Arte de Correr na Chuva
Autora: Garth Stein
Editora: Ediouro
Páginas: 336
Média de preço: Indisponível para compra

“Porque a lembrança é o tempo se dobrando sobre si mesmo. Lembrar é se desligar do presente.”


Sempre gosto de livros quando um personagem tem cachorro. Foi assim com o famoso Marley e Eu e, recentemente, com o livro A Escolha, de Nicholas Sparks. A Arte de Correr na Chuva é um livro do autor Garth Stein, muito pouco conhecido, publicado sem grande alarde no mundo inteiro, o que é uma pena, já que a história é fantástica e totalmente diferente do esperado.

Diferente de outras obras, somos a apresentados a Enzo, um cachorro terrier em seus últimos momentos de vida que decide fazer uma retrospectiva de sua vida com seu dono, Denny e todos os altos e baixos que a vida os fez enfrentar. Os dois são grandes fãs de corridas de carro e Enzo acompanha a carreira de Denny, que é um piloto conhecido por sua habilidade de correr na chuva. O autor também faz muitas referências a Ayrton Senna.

Aqui, Enzo é o grande herói da história: um cachorro inteligente, com grande conhecimento sobre si próprio, afinal, ele cresceu vendo documentários na TV. O grande sonho do cachorro é terminar sua vida com dignidade depois de ver um documentário que os cachorros reencarnam como humanos na sua própria vida, o que leva o terrier a ser o melhor companheiro do homem.

Na história, somos apresentados a vida de Denny e Enzo juntos, até a entrada de Eve, que se torna esposa de Denny, e Zoe, a filha do casal. No início, o cachorro não fica satisfeito com a entrada de Eve em sua vida, mas logo essa situação acaba e com a chegada de Zoe, Enzo se vê na obrigação de sempre proteger a garotinha. É nesse meio de amor e cumplicidade que vemos um lar cheio de felicidade.

Quando Denny consegue patrocinadores e passa a correr com frequência, Eve começa a sentir dores na cabeça e seu humor começa a desregular. Enzo, antes de todos, já sabe que a dona está com um tumor cerebral, mas fica se remoendo por não conseguir avisar a todos sobre o que está acontecendo. É em meio a doença de Eve que o lar de Enzo começa a quebrar: após a descoberta da doença, Eve vai para a casa dos pais dela em companhia de Zoe, enquanto Denny fica sozinho com seu cachorro.

Garth utiliza das mais simples e puras emoções para dar forma à história. É impossível não rir, chorar, sentir raiva ou ficar apreensivo devido a forma como o autor desenvolve os acontecimentos. A humanidade que ele dá a Enzo é fantástica, levando ao leitor a querer um cachorro igual a ele, que pode começar a existir, basta ligar a tv. A perspectiva do cachorro sobre o que acontece a seu redor rende bons momentos de leitura.

O autor mostra também um tom certo de drama quando Eve morre e os avós da garota decidem entrar com um processo para ficar com a guarda de Zoe. Denny se desespera para poder reverter a situação, mas a denuncia de pedofilia que ele recebe, de uma prima nova de Eve, o deixa desesperado. É aqui que vemos cada vez mais o acerto do autor ao humanizar Enzo. É por causa do apoio do cachorro que vemos Denny contornar a situação.

No mais, A Arte de Correr na Chuva é o tipo de história simples, mas carregada de sentimentos. Vemos muitos acontecimentos ao longo das páginas, mas a grande emoção mesmo é quando Enzo finalmente morre e o epílogo da obra, duas partes emocionantes. No mais, o livro merecia mais reconhecimento do que teve e, é claro, após essa leitura que me fez refletir sobre muitas coisas, vai ser indicado sempre.

“Existem tantas coisas que são ditas sem uma palavra. Existem tantas coisas que são ditas com olhares, gestos e sons. As pessoas ignoram a enorme complexidade da comunicação não verbal.”

Nota: * * * * * * * * * *

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